Quando embarcámos em Lisboa, já sabía mos que esta expedição à Ilha do Príncipe iria ser especial. O que tínhamos previamente estudado para a sua preparação alimentava-nos as expectativas em alta. Ainda assim, superadas.

Fomos recebidos como se fossemos da família e conduzidos à “nossa casa” em Santo António, onde encontrámos em cima da mesa de entrada uma folha de boas-vindas, com um itinerário criteriosamente definido para cada dia, com toda a logística mobilizada e assegurada para que pudéssemos trabalhar nos lugares certos, nas melhores condições, sincronizados, sintonizados e sem distrações.

Saíamos ao amanhecer, depois de fazermos as pazes com o galo que cantava invariavelmente duas horas antes do despertador. Depois de um café expresso no Mira Rio, subíamos com as mochilas às costas para a caixa aberta do todo-o-terreno conduzido pelo nosso guia, o Yodi, que chegava todas as manhãs com pontualidade para nos levar aos lugares chave da ilha.

No percurso, éramos saudados com entusiasmo por todos os que se encontravam junto à estrada, que nos davam a sensação de saberem quem éramos e o que andávamos por ali a fazer. Grandes caminhadas pela floresta e pelas praias, momentos de contemplação consolidados pelos riscos nos nossos cadernos e pelo disparar constante das máquinas fotográficas, numa tentativa incompleta de ver e entender tudo o que a ilha nos oferecia.

Quatro a desenhar, dois a fotografar, num misto de deslumbramento e respeito pela beleza pura, temperados com as visitas às populações locais, onde, em ambiente de festa, o nosso trabalho era seguido de perto pela curiosidade genuína das crianças e adultos, como se algo de mágico estivesse a acontecer.

O conjunto de imagens que agora partilhamos, é o resultado directo do que vimos e sentimos no terreno durante as duas semanas em que estivemos a trabalhar no Príncipe. Duas semanas foi pouco tempo, mas o suficiente para vivermos um estado de graça permanente, colectivo, cúmplice, assumido. Uma ver dadeira inspiração para os nossos olhos, ávidos de luz, em busca permanente de imagens fortes para registar com lápis e lentes. Imagens fáceis de encontrar, difíceis de escolher. Paisagens de suster a respiração, elementos naturais que pedem atenção, gentes de sorriso fácil e generoso. Ficam-nos ainda retidos, entranhados na pele e na mente, os sons, a água quente e cristalina, os cheiros, os sabores, e uma invulgar paleta de cores.

A diversidade de abordagens pessoais resultante das diversas formações, se nsibilidades e actividades profissionais existentes no colectivo, no mesmo espaço e tempo, constitui a chave para a diferenciação do projecto do Grupo do Risco. O desafio que o Grupo do Risco assume não é o de relatar um mundo novo, mas o de mostrar uma realidade cada vez mais rara, utilizando técnicas actuais de registo e comunicação. O que esperamos é que o nosso trabalho contribua para o conhecimento e para a valorização do mundo natural e seus habitantes, e que ajude a consolidar uma opinião pública favorável à sua preservação.
Após esta missão no Príncipe, ficamos com a ideia que não será fácil preparar a próxima. Depois de outras que na última década nos levaram a outros lugares também especiais, esta viagem de descoberta, apesar de curta, encheu-nos as medidas.

Mais do que especial, esta ilha é preciosa. Única.
E os principenses sabem disso.