O Álvaro é fotógrafo – disse ela, como se aquilo resolvesse a questão.
Os olhos de fotógrafo de Álvaro Senna captam apenas o reflexo mais ofuscante dela.
Os seus caminhos acabaram por convergir no mesmo ponto geográfico. Apesar de tudo, não seria de esperar: ela sempre foi mais o próprio amor do que a amante – uma personificação satisfatória do amor. E ela sempre teve consciência disso, sempre foi terrivelmente consciente.
Álvaro sabe que a partilha dos dias não significa que a tenha alcançado. Por isso a fotografa. As fotografias, essas sim, são suas e nelas está o reflexo de Ecanoa.

Admirador de Cartier Bresson e de Robert Capa, Álvaro fotografava sempre com luz natural, usava o negativo integral e apreciava o impacto de algumas imagens tremidas ou desfocadas e subiluminadas. Nas suas divagações fotográficas, Álvaro sentia-se atraído por objectos anódinos que descontextualizava e fragmentava em enquadramentos truncados. Formas abstractas encontradas ao acaso, sintetizadas, decantadas da banalidade do todo circundante, que fotografava frontalmente, eliminando a perspectiva e enfatizando o grafismo e o acaso de luz e sombra. Evocações indeterminadas, readymades, como versões de jazz de temas conhecidos.

Todos os romances tratam da eterna luta por amor e glória. O terceiro romance de FRANCISCO MARTINS DA SILVA é, no entanto, mais do que uma história de amor, ao fazer um retrato ácido de uma actualidade feita de facilitismo social e perda de dignidade.